sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Ordenações presbiterais

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro - RJ

Estou tendo oportunidade de presidir algumas celebrações de ordenações presbiterais neste mês de Agosto. Em plena semana de orações pelas vocações sacerdotais o Senhor me deu a graça de ordenar 11 novos sacerdotes na Festa da Transfiguração do Senhor. É sempre uma oportunidade de reflexão e de ação de graças.

A vida de todo ser humano é um dom de Deus. “Somos obra de Deus, criados em Cristo Jesus” (Ef 2,10). Somos criaturas de Deus. O sacerdócio é um dom que vem de Deus.

Do mesmo modo que chamou Pedro, Tiago, João e tantos outros na história da Igreja, o 'Vem e segue-me', chama hoje com a mesma força. Ninguém respondeu ao sacerdócio por ação humana, mas porque o próprio Cristo no interior de suas almas pronunciou seu nome e os convidou a segui-lo.

Falar de vocação é sempre algo necessário e desafiador. É necessário porque Deus nunca deixa de chamar pessoas para compartilhar a sua intimidade e desafiador porque muitas vezes não damos a devia atenção a esta voz que nos chama. Deus continua sempre o mesmo e não se cansa de demonstrar a sua bondade. Mas no mundo em que vivemos se torna extremamente difícil perceber esta presença e o chamado de Deus. Diante de um mundo cheio de possibilidades e oportunidades, facilmente perdemos a direção. No entanto, em meio a todas essas conturbações, Deus age misteriosamente na simplicidade de nosso dia-a-dia. Deus toca no coração das pessoas para que, livremente, elas disponham de seu tempo e de sua vida para colaborar de forma intensa no serviço de salvação do mundo.

É nesse sentido que a minha ação de graças se prolonga ao ver como, mesmo nas grandes cidades com todas as atrações que dispõe, e mesmo numa sociedade permissiva e com tantas possibilidades de caminhos, jovens continuam respondendo generosamente a Cristo diante do Seu chamado para servir ao Povo de Deus entregando toda a suas vidas e com um coração indiviso.

Cristo quis necessitar de cada um dos seus sacerdotes, como foi com Pedro, Tiago e João. Embora todo cristão é chamado a ser presença de Cristo no mundo, os presbíteros, ao presidir, coordenador, celebrar, anunciar são os canais e os meios pelos quais Ele vai comunicar-se à humanidade. Na Igreja, todos somos iguais por razão da vocação em Cristo, porém, possuímos funções diferentes que supõem vocações na e para a comunidade. A nossa primeira vocação, à qual todos somos chamados, é a de ser santos como nosso Pai é Santo. Vocação esta que está intimamente ligada à nossa adoção filial por parte de Deus. Nesse sentido, tudo o que fizermos deverá contribuir para a nossa santificação e a dos outros, quer assumindo uma vocação de especial consagração na vida da Igreja quer sendo presença dela no mundo perante as várias profissões.

Diante da dimensão do chamado, existem muitos caminhos diferentes: a vocação cristã, de filho, batizado; a vocação laical, ao matrimônio ou a ser solteiro; a vocação ao ministério ordenado, ser sacerdote; e a vocação à vida consagrada, ser religioso. Para responder ao chamado de Deus é preciso abrir o coração e deixar-se envolver pela graça de Deus que exigirá de nossa parte uma constante conversão.

Deus chama a cada jovem ao sacerdócio para que ele responda; chama a cada um, como pessoa. E a resposta a Deus é uma resposta pessoal. A missão de cada sacerdote é clara e precisa: a santidade urgente!

O chamado de Cristo tem prioridade. Nenhum interesse humano deve estar acima de Deus. Por isso Jesus diz: “todo aquele que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo”. Jesus mesmo deixou os seus discípulos encarregados para a edificação da Igreja: “Ide, pois, fazei discípulos meus entre todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19) e assegurou que estará com eles todos os dias, até o fim do mundo. Assim, a Igreja torna-se missionária e evangelizadora, mas, para que essa missão profética se concretize, ela necessita da colaboração de muitos.

Deixando seus padres em meio ao mundo, Jesus declarou que queria fazer deles seus mensageiros e representantes. Se, graças aos sacramentos do Batismo e da Crisma, cada cristão é chamado a testemunhar e a anunciar o Evangelho, essa dimensão missionária da Igreja se torna especialmente ligada à vocação sacerdotal.

O sacerdote foi escolhido por Deus, do meio do povo, e Cristo vem nos comprovar isto: “Não fostes vós que me escolhestes; fui eu quem vos escolhi” (Jo 15,16). O sacerdote é chamado a colaborar com a obra da construção do Reino de Deus, apresentada por Cristo. O padre é aquele que fala a Deus sobre os homens e fala aos homens sobre Deus; que não tem medo de servir à Igreja como ela quer ser servida; e que vive com alegria o dom recebido pelo Sacramento da Ordem.

Corresponder ao chamado de Cristo supõe enfrentar desafios com prudência e simplicidade e, até mesmo, perseguições. Os sacerdotes não ficam sós para anunciar o Reino dos Céus, mas é o mesmo Jesus que os acompanha: “Quem vos acolhe, a mim acolhe; e quem me acolhe, acolhe aquele que me enviou”.

O que fortaleceu os discípulos e continua fortalecendo os sacerdotes hoje em dia é sempre o amor de Cristo. E é, sem dúvida, esse amor que fará com que o sacerdote se doe inteiramente ao anúncio da palavra de Deus, à administração dos sacramentos, ao serviço dos doentes, dos sofredores, dos pobres, dos que passam por momentos difíceis, enfim, daqueles que necessitam de conforto para seu corpo e alma.

O padre é o homem da Eucaristia e é dela que ele tira forças e coragem para proclamar o Reino de Deus em meio ao mundo. O padre também é o homem do Anúncio do Evangelho e dele fundamenta sua vida e sua caminhada. O padre é o homem do perdão, vive e anuncia a grandeza da misericórdia de Deus. O padre é o homem da partilha, porque partilha sua vida como Cristo partilhou a sua. O padre é o homem da profecia, porque anuncia e denuncia como os profetas as injustiças de nossos tempos. O padre é o homem do amor, porque se doa como o Cristo se dou na Cruz por amor a humanidade.

A espiritualidade do padre deve ser profunda para enfrentar todas as dificuldades surgidas. É neste ponto que o povo de Deus deve, com fervor, rezar pelos padres para que eles possam, a cada dia mais, estar fortificados com as graças de Cristo.

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